sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O texto do ano.

Comecei a pensar mais profundamente hoje sobre vários fatos desse ano, sobre meus conflitos internos, tudo o que tem por vir, o que conquistei e o que ainda preciso conquistar. Minhas aspirações, as realizações... enfim, vamos lá: dar forma aos pensamentos.
Primeira coisa: acho muito chato esse negócio de inferno astral. Se ele existe ou não eu não sei, mas fim de ano pra mim é quase que um aniversário-sem-fim. Quem me conhece sabe o quanto eu não gosto de fazer aniversário. Não acho que seja pela idade, mas são ciclos, e os ciclos parecem continuamente intermináveis, constantemente necessitantes de mais tempo, de um pouco mais de tempo para se fechar. Ele se fecha sem que estejamos prontos, esta é a verdade.
Fazer a avaliação de um ano, estando ainda nele é difícil, uma tarefa desonesta. Pois como todos devem supor, é melhor falar das coisas quando você já passou por ela e fez uma reflexão mais prolongada, entretanto a 'tradição' que inventei (não é mesmo, Hobs?) de escrever meu texto de reflexão nos últimos dias do ano me chamam a fazê-lo.
Entrei na faculdade, já adiantei no último post os motivos e como foi o ingresso. Entretanto a estadia está sendo infernal. Não fosse pela minha turma ser legal (claro que não são estudantes de Ciências Sociais ou História, são alunos de Medicina) as coisas estariam mais difíceis. Tem uma ou outra 'maçã podre' no meio, mas são tão poucos, ou me afasto deles com tanta veemência, que praticamente não os noto. Surpreendi-me muito com minha turma, esperava o pior, e me vieram pessoas deliciosas de se conviver - claro, com aqueles problemas comuns a todos os que não fazem uma reflexão mais profunda da sociedade (o que me rendeu um choro compulsivo no meio de uma aula/tutoria depois de todos concordarem que uma mulher que sai na rua com roupas curtas tem parte da responsabilidade por ser estuprada. Esse dia foi o campeão em distanciamento, ali percebi o quanto eu era diferente de todos eles. Obviamente não dá pra exigir das pessoas formações que elas não tiveram, reflexões que não foram estimuladas a ter. Ficou por isso mesmo.).
[A PARTE QUE ESTAVA AQUI FOI CENSURADA, não dizia respeito a nada muito importante]
Seria errado dizer que o segundo semestre foi ruim, porque não foi. Tive, em contrapartida a tudo o que foi acontecendo, o cursinho. Foi um ano excelente, pessoas e vidas maravilhosas. Um exercício de amor a cada semana, a cada contato. Aprendi muito, me aproximei de muitos estudantes, tive marcas em meu coração que ficarão para sempre: deixei parte de meu coração com cada um deles, recebi em troca outra parte, um carinho, um abraço, um desejo sincero, uma gratidão que é recíproca, sem eles eu não teria crescido como cresci.
Fui levada a me envolver com histórias complicadas e pessoas incríveis, pessoas fortes. Tive uma companhia inseparável nesses momentos, a Gabrielle. Ela contribuiu para que eu não caísse, para que não pendesse para um lado, ela tem uma profunda sensibilidade que foi vital nos momentos em que passamos.
No dia dos professores alguns estudantes programaram uma intervenção na escola, colocaram post-it com recados, frases, em homenagem aos educadores. Foi um ato de tanta beleza, foi reconhecimento do trabalho de todos que doaram tempo, amor e fizeram parte de uma rede de solidariedade pela Educação, por sonhos. Saí com um sorriso profundo, não pude pensar em outra coisa durante o dia, a semana, o mês. São incríveis. Todos e todas. Tivemos depois o encontro de fim de ano, ganhei muitos presentes lindos, delicados, com amor. O maior de todos eles, entretanto, foi a convivência com eles durante o ano. Ganhei panos delicadíssimos da Maira, uma bolsa com um tecido com flores rosas lindas do Yuri, um vaso pintado à mão e sementes para florescer da Ellen. Depois ganhei uma agenda de um grupo querido também, da qual batizei 'Cursinho Popular Mafalda', veio da educação, que retorne a ela.
E daí deve estar a pergunta: Ma-fal-da? Li direito? Oi? Sim. Leu. É o novo nome do cursinho; nos separamos da Rede Emancipa, por questões partidárias e por questões pedagógicas conflitantes. Continuamos com um corpo docente grande e firme. Pretendo me reunir com as outras coordenadoras (ah, tivemos uma perda, o Cláudio. Ele saiu da coordenação e do cursinho após muitas discussões sobre os pontos pedagógicos e desvinculação da Rede. Inda vale a amizade. Ela não se foi, e quero que perdure, espero que um dia consigamos nos entender, ele foi uma pedra-chave este ano para o cursinho) e os professores para travar os planos de ensino e estratégias para este ano que se inicia. Quero que ele seja melhor que o ano que passou, espero que consigamos. Esse ano tivemos aprovações em grandes vestibulares, e acredito que a maior parte dos que estudaram conosco conquistem uma vaga no Ensino Superior. Foi um ano que exigiu muito, mas deu muito retorno; então não me sinto super consumida ou em débito.
Comecei também a ter mais contato com a família da Gabi. Há muitos conflitos políticos entre mim e alguns membros da família. Mantenho-me em silêncio na maior parte das vezes, para preservar a boa convivência, para não fazer com que a Gabi fique mal, sinta-se deslocada ou mesmo dividida. Tem coisa que dói, que machuca, que me faz pensar em não voltar nunca pra casa dela, de não falar mais com algumas pessoas. Mas volto, relevo, sofro calada por algumas declarações infundadas. Sabem que sou mesmo sentimental em questões sociais, não tem como não ser. Algumas coisas me incomodam verdadeiramente. Um dia teremos nossa casa, e fim. Teremos nossas filhas, criadas à moda de Zélia Gattai. Chega. Pausa em uma geração reacionária.
Quero conseguir contagiar as pessoas, ajudar, auxiliar, tentar uma transformação; quero ter um papel social atuante, importante para os indivíduos, pois lidar com sociedade em quantidade exige outros termos, outras intenções e outro jogo, que não sei se faz o meu tipo. Prefiro atuar ano-a-ano, no cursinho, no ônibus, na faculdade, no meu meio social. Buscar fazer coisas reais e verdadeiras, não gosto de pessoas que falam muito e não fazem nada... chega de verborragia falsa.
Sobre o cursinho, teve uma pessoa em especial que me fez relembrar Maíra em muitos momentos: a Ellen. Ela é uma pessoa cheia de luz, um encanto, leva amor, compreensão e paz por onde passa. Tem força e sensibilidade. Fez com que eu chorasse, repensasse meus caminhos profissionais, me deu uma ponta de esperança no mundo. Foi importante sem nem ter ideia muitas vezes da dimensão de tudo o que representou na vida dessa jovem senhora.
Em casa os conflitos com minha mãe continuam, eu a amo muito, mas ela é muito chata, rs... toda mãe é assim? Poxa vida, não quero ser uma mãe tão chata. Mas como eu não sou perfeita, como exigir que ela seja também? Meu irmão está cada vez maior, mais lindo, esperto e inteligente. Folgado também, é com muito custo que ele arruma a cama e guarda os brinquedos quando tira-os da mala de brinquedos. Mas ele é um ser humano muito bom, uma pessoa que tem um coração fraterno. Sofre com os coleguinhas, como toda criança, acaba me lembrando eu mesma quando criança. É engraçado isso. Se tem algo que eu desejo com todo o coração é que ele seja uma pessoa boa sempre, quero que ele consiga contribuir para um mundo melhor sendo uma pessoa melhor.
Com a Gabi está tudo bem, ótimo pra falar a verdade. Sabemos do nosso hoje, e empreendemos nossos esforços para o futuro. Quero estar com ela ao meu lado até envelhecer, e que não seja permitido, pela natureza ou por forças energéticas quais sejam, que ela se afaste de mim ou vá antes de mim. Tenho que admitir, queridos, eu amo com todo o meu ser. Sim, tudo o que compõe um ser, eu amo com tudo isso. Tê-la ao meu lado fez o mundo ser melhor, fez o coração se abrir mais, fez as trancas fornecerem a chave-mestra.

Desejo a todos e a todas um futuro melhor, e um ano próximo que seja de ganhos, batalhas e ganhos.
(OBS.: Sei que escrevi menos ou com menor profundidade que de costume, mas volto a falar-lhes as minucies dos casos ao longo do próximo ano).

3 comentários:

Gabi Idealli disse...

Como sempre, toda bela.
Esse ano foi um ano de muita transformação, de muita adaptação e de muita luta. Termos passado por tudo isso, fez-me crescer. Ao seu lado, algo que realmente me deixa satisfeita.
Poder ouvir cada um desses pensamentos descritos aqui em cima enquanto eles se formavam, é engrandecedor e íntegro, ao meu ver. Dividir é algo sem igual.
Você é uma pessoa que brilha, que é autentica, é entregue, é insólita, revoluciona.
Cada ano sinto-me mais parte do todo que é você. Estou aqui, sempre estarei.

Gabi Idealli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabi Idealli disse...
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