domingo, 11 de setembro de 2011

O pensar do outro

Escrever e falar sempre confere forma aos pensamentos. É uma espécie de reflexão contínua durante a confecção do texto, as palavras vão se encaixando e fazendo sentido - pelo menos para quem o escreve - afinal de contas, a lógica é variável, ao contrário do que se pode pensar ao ter como referência a matemática escolar tradicional, em que 1+1 é sempre igual a 2. O poeta músico pode encarar como "...um mais um é sempre mais que dois, pra melhor juntar as nossas forças" [O sal da Terra - Roupa Nova]; e mais, aquele dito 'louco', o que não se encaixa na normalidade definida pela maioria, pode achar que dois sequer existe, independente da organização algébrica.
Gosto de pensar que as lógicas existem, que elas são variáveis. E falo de lógica, não de farsa; essa não é uma ode ao falso, ao fingimento, ela é ao pluralismo, às diferenças de pensamentos, de lógicas e de seres. Talvez eu siga algo na área de psiquiatria. Pensar e refletir é um exercício fascinante sempre, exige muito de nós, fato. Exige aceitar e pensar em coisas que, para nós, são pilares da lógica convencional (ou deveria dizer 'social'?). Essa minha paixão pelo pensar do outro [acabei de encontrar o título do texto presente] é devido, em primeira instância, a Antropologia. Eu sempre digo, e muitos riem, quando digo que "A Antropologia mudou a minha vida". Ela mudou o meu modo de pensar as ações dos outros, isso ajuda a me acalmar diante de atitudes que antes ficaria furiosa, infantilmente, claro, porque nós não podemos mudar alguém, não podemos fazer com que ele entenda ou aprenda algo que queremos. Tudo se baseia em troca. Para os mais espiritualizados, eu poderia sugerir um entendimento de antropologia como troca de energia.
Lembro de uma aula, em que defendi a resignificação cultural em oposição à aculturação. E recebi como resposta, da própria professora Maíra, a lembrança de que as trocas se dão por meio de um sistema em que um sempre exerce mais poder sobre o outro. De fato, devo admitir que esse é um ponto indiscutível. Há sempre um que exerce mais influência sobre o outro. Vide a relação entre mídia e a massa populacional. A troca é dada a partir dessas considerações. O psiquiatra tem mais poder que o seu paciente; o professor tem mais poder que os seus alunos; os pais têm mais poder que seus filhos. Mas não há quem não possa se propor a ouvir, compreender e remodelar-se, caso queira. Está aí a graça da coisa, se tornar diferente do que acredita ser, se pôr a questionar a si mesmo, buscar conhecer a si mesmo, do modo mais profundo encontrado: com a contribuição dos outros. A verdadeira Antropologia (para mim) está nisso, é ir além da empatia, é refletir e se permitir mudar, e não adianta esperar que a primeira atitude venha do outro, isso seria condicionar seu próprio crescimento e limitar sua reflexão.

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