domingo, 26 de dezembro de 2010

Relicário 2010

Hoje resolvi escrever o Relicário de 2010. Contudo, alguns temas antigos serão retomados. Agora, e só agora, me sinto confortável pra falar de algumas coisas.

Uma dessas coisas é o meu Ensino Médio. Ontem estava ouvindo um CD de MP3, devia ter cerca de 100 músicas, a maioria samba, mas tinham algumas músicas internacionais, dentre elas Photograph do Nickelback. Foi essa a música que eu escolhi pra fazer o vídeo de homenagem para minha turma, que me acompanhou durante três anos e foi de fundamental importância para o meu desenvolvimento. Lembro do dia que combinamos a ‘festinha’ no Extra, que era bem próximo à escola, e eu pedi aos funcionários do supermercado para colocar o vídeo na cadeia de microcomputadores da loja. Então chamei metade deles, e depois a outra metade, e todos assistiram, juntos, ao vídeo que passava simultaneamente em todos os microcomputadores do setor. Foi um momento bastante confuso pra mim. Uma mistura de sentimentos. Eu estava muito triste naquele fim de ano. Muita coisa desagradável tinha acontecido, mas desde a oitava série, em que eu optei por não participar da formatura e me arrependi, prometi a mim mesma que não deixaria de fazer as coisas da escola, não deixaria de participar de momentos de confraternização independente da minha situação emocional no momento.
Portanto fiz. A Adrielle não estava presente, ela não tinha ido esse dia para a festinha no Extra. E a música, a tão bem escolhida música tinha me sido apresentada por ela. Ela, que foi a pessoa com quem eu mais tive afinidade no Ensino Médio, não estava presente pra ver o vídeo que eu tinha feito em homenagem pra toda a sala, e a música, ela saberia que era especialmente escolhida por causa dela. Enfim, ela viu no dia da comemoração de todos os terceiros anos, – em que eu estava hiper preocupada pra saber se ela viria, pois já estava quase na hora da apresentação da minha sala e iam passar meu vídeo e ela não veria, pela segunda vez perdida. Desci as escadas encaracoladas com a maior rapidez pra ver se ela chegava, então a encontrei, não lembro se na escada ou na entrada, mas subimos juntas e o vídeo estava começando. – no evento que a escola realizava e que cada sala apresentava alguma coisa que tinha bolado. Algumas fizeram teatro, outras vídeos, outras cantaram, outras fizeram todas as coisas. Além das premiações de ‘o mais nerd’, ‘o casal mais bonito’, ‘o menino / a menina mais bonito (a) da escola’, dentre outras categorias.
Eu não pude sentir nada naqueles últimos meses. Tudo era tão confuso. A Gabriela tinha saído da escola por ela ter dito à mãe dela sobre tudo o que aconteceu, o pai dela - soube depois – bateu nela, ela ficou presa em casa durante um tempo e eu fiquei na escola. Naquela Sala do Grêmio. Onde tudo me lembrava as conquistas do ano, lembrava as promessas ditas lá, a cor de tudo, o armário, a organização. Toda a organização tinha sido feito em dupla praticamente. A Sala representava o status que eu havia adquirido na escola também. Eu era então a presidente do Grêmio. Foi em frente a esta sala também que encarei um dos piores momentos da minha vida institucional. Devido a uma determinação minha no Campeonato Esportivo da escola, quase todos os membros do Grêmio vieram falar comigo, dizendo que eu não mandava sozinha no Grêmio. Acharia digno isso, muito, inclusive. Caso todos participassem das reuniões, caso todos fizessem algo. Lembro do Paulo dizendo “Mas você não deixa a gente fazer nada” e então, a pergunta trivial: “O que você propôs que eu disse não?”, como resposta, o vácuo.
Sempre fui muito determinada em tudo que me propus a fazer. Foi a gota d’água aquilo. Depois de tudo! Depois de todos os problemas que o ano se encarregou de me trazer, pra finalizar com ‘chave de ouro’ eis que o grupo que fiz parte, e que se absteve em diversas determinações, resolve se pôr contra mim. Excelente. Aceitei a decisão da ‘maioria’, e então foi feito o que eles queriam. Era só isso que queriam? Então está feito. Parabéns, vocês conseguiram se reunir pra resolver alguma coisa, mesmo não estando por dentro do que tinha acontecido de fato.
Eis que se deu a desdita. O desânimo já impulsionado se tornou ainda maior. Tinha um certo desgosto de ir à escola. Não me lembro quem, mas depois de eu ter contado o ocorrido a um integrante do Grêmio que não estava presente nessa ‘reunião’, me disse (na verdade acho que foi o Elvis, mas seria injusto afirmar algo que é tão nebuloso em minha memória): “Não acredito. Posso até não concordar com você, mas não tenho moral pra exigir nada, você que levou o Grêmio à frente o ano todo. O que fizeram foi absurdo.” Se eu não caí em prantos nesse exato momento, o fiz depois. A Adrielle foi outra pessoa que reprovou veementemente essa atitude do grupo, ela acompanhou toda minha trajetória no Grêmio. Ela me fez uma carta quando ganhamos a eleição, me parabenizando e desejando um ótimo mandato.
Envolvi-me com outra pessoa, cheguei a gostar, a ficar bastante mexida, mas, como essa mesma pessoa disse, eu era uma conquistadora – e fim. Além de eu parecer gostar de problemas. Por que eu não queria o que poderia dar certo? Por que eu só queria o difícil? Eu queria exigir plenitude das pessoas, igual a que eu estava disposta a dar.
Voltei a namorar, mesmo com esse turbilhão de coisas. Talvez tenha sido uma forma de tentar esquecer o que estava acontecendo. Fugir. Coisa que não é do meu feitio, mas essa minha atitude mostrava mais isso que qualquer outra coisa. Voltei a ser refém, de própria vontade, de um naufrágio programado.
Conseguem imaginar meu estado emocional depois desse ano na escola? Pra melhorar: ano de vestibular. Medo constante de não ser aprovada em nada. Tinha pouco contato diário com a minha mãe, e nunca fui de desabafar com ela. Teve um dia que vim chorando pra casa, pensando em chegar e pedir colo, em dizer que tudo estava péssimo, que estava morrendo de medo, que estava triste, que queria gritar quando estava lá, que só queria um abraço e ouvir um ‘Calma, filha, vai dar tudo certo’. Não fiz nada, obviamente. Cheguei tarde, peguei trânsito, e quando cheguei ela brigou por conta do horário que cheguei. Fui direto pro banheiro e tomei meu banho, chorei só. Dormi e no dia seguinte outra batalha estava à minha frente. Todo dia era uma batalha.
Compreende agora porque eu estava confusa ao mostrar o vídeo aos meus amigos? Estava dividida entre a alegria de terminar o terceiro ano, em ter conquistado alguns bons amigos pra sempre, triste e profundamente magoada com diversas outras coisas. Preferi, durante muito tempo, ignorar tudo o que tinha me acontecido e viver no que dava.
Hoje tudo parece plástico. Todos os aborrecimentos, todas as alegrias. Tudo parece tão distante que parece ser possível tocar esses momentos. Tocar com as mãos mesmo, parece palpável. Plástico, de fato.
Não tenho mais contato com a maior parte dos meus colegas e amigos do Ensino Médio, eles se vão, eu me vou. Cada um seguindo sua trilha. Ainda falo com a Barbara de vez em quando, nos vimos algumas vezes, com a Pam também. O Elvis vira e mexe falamos via orkut, a Giulia vejo sempre, ela dá aula no Cursinho que eu coordeno atualmente. A Daila me excluiu depois de um desentendimento via orkut, voltamos a falar pelo telefone, nos vimos duas ou três vezes propositalmente e não nos falamos há tempos, a Adrielle se casou e não me chamou, conversamos via e-mail depois e ficamos acordadas em não termos mais contato, foi muito dolorido durante muito tempo, mas crescer exige decisões. Por algum motivo, tudo isso aconteceu e acabou no que temos hoje. O Tweenn nunca mais falei também, o Will falamos mais algumas vezes via MSN, encontrei o Marco no Shopping esse ano, acho que perto de agosto, ele me apresentou a namorada dele e eu a minha. Ele ainda toca pagode e cursa Direito, como era o esperado. A Thaís teve a atitude mais linda que alguém que me conheceu, mesmo que de leve, poderia fazer. Mandou via correio recortes de imagens de revistas. Eu sempre fiz colagens, cartões com colagens, capa de caderno. Era mais uma terapia. Chorei ao perceber a doçura daquele ato. Fiz um presente pra ela, espero que ela goste quando receber. Uns e outros falei por orkut, e-mail e essas coisas. A Bianca me chamou pra ir a um evento esse ano, o Gian sofreu uma terrível perda, seu pai faleceu, e eu me senti péssima por não poder ajudar. O Gian é uma das melhores pessoas que já conheci na vida.
Enfim, essas são as considerações que posso tecer sobre meu Ensino Médio e o que minha memória permite lembrar e comentar. Como disse: tudo que se passou é plástico, isso não significa que seja mentira ou ficcional, mas é plástico: REAL e IMÓVEL.
Sobre a minha ex, terminamos e não mantivemos mais contato, foi essencial para o fim definitivo e para não atrapalhar meu novo (e eterno) relacionamento. Foram alguns dias antes de completarmos quatro anos. Estávamos com viagem marcada, passagens compradas, definindo só em que flat ficaríamos... O fim foi eminente depois de refletir sobre tudo o que tínhamos passado. Terminamos – terminei, e ela perguntou se era o que eu queria de fato, respondi que sim, ela aceitou – por telefone em uma segunda-feira, no sábado nos encontramos só para conversarmos como se deve e então nunca mais nos vimos. Falamos algumas vezes por MSN, orkut, telefone... mas isso foi se reduzindo mais e mais, até que nosso último contato foi feito por telefone onde ficou tudo acertado que não nos veríamos e não nos falaríamos mais. Foi o melhor a ser feito.
Refletir sobre isso é complicado. E foi muito difícil aceitar o que todos sempre me disseram: ‘ela não te ama’. (não o suficiente) Cair em mim, depois de anos me doando a um relacionamento que não geraria frutos, foi um processo gradual e lento. Mas enfim, consumado. Em quatro anos o perfil dela no orkut continuou como ‘heterossexual’ e ‘cristã’. Em quatro anos a mãe dela não soube, o pai dela não soube. Os amigos da igreja não souberam, a moça que ela considerava melhor amiga, nunca soube. Uma amiga me dizia (e ninguém precisava me dizer nada, não sou idiota, sei das coisas, principalmente da minha vida) que ela era folgada, que não era pra me levar à casa dela quando os pais não estivessem, que era pra assumir. Sempre soube que ela era covarde demais pra fazer isso, nos primeiros anos eu ainda tinha esperança, depois vi que não teria jeito, me conformei. Levei à cabo um relacionamento que nunca tinha chegado a sê-lo de verdade. Vivíamos escondidas, sempre. Mas não acho que posso culpá-la por nada: afinal, como eu já disse, não sou idiota e sempre soube e tive consciência das coisas. Por pior que seja ter de assumir que me dei sem tamanho a alguém que não me valorizou, que não me assumiu, que não se assumiu, que não me amou de verdade ou pelo menos não o suficiente para transformar o ‘amor’ em, minimamente, um relacionamento, fazer isso é necessário.
A Bi admitiu que era egoísta, que foi um erro o que tinha havido entre nós porque ela não pensou em nada, em ninguém, não pensou no pai dela, não pensou em mim, só pensou nela. Por fim, foi madura o suficiente em pouco tempo para compreender o que tinha feito e colocar as idéias no lugar. Ela nunca fez isso. Reclamava de me acompanhar até o metrô Itaquera e depois voltar pra estação em que descia, esperar o ônibus comigo até ele chegar, muitas vezes nem me buscar ou levar na portaria do condomínio em que morava, tudo por medo de alguém nos ver. Mas eu era jovem. Foi meu primeiro amor, eu queria que desse certo. Eu queria muito que tudo desse certo. Queria ser feliz; tive, obviamente, momentos de felicidade. Mas foram momentos, o contínuo era de desconforto por não poder assumir isso publicamente, não poder mostrar ao mundo o que eu era e o que eu queria – talvez isso tenha sido apenas uma vontade juvenil qualquer, mas tinha um significado pra mim: assumir significada ‘prefiro você, sou feliz e é o que eu quero’. Todos que me conheceram e conheceram a minha história nesse período sabiam da existência dela, das dificuldades, enfim. Por fim, ela nunca assumiu pra família dela, as coisas sempre permaneceram muito confortáveis pra ela, socialmente pelo menos. Espiritualmente ela devia estar totalmente dolorida. Conheço a fé cristã, conheço os preceitos e os valores e é impossível, depois que você se submete a crer, retornar. Devia ser uma luta constante, e eu compreendia – ou buscava compreender – a posição dela por isso; pela dificuldade que devia ser conseguir viver sem enlouquecer acreditando no Deus cristão e amando uma mulher, assim como ela. Conclusão: um ou outro estava errado, ou ela não me amava o suficiente, ou não amava a Deus o suficiente, ou não amava nem a mim nem a Deus, só a ela. Como saberei? Não sei, não me interessa mais saber.
Por fim, ela se envolveu com outra pessoa depois de mim, soube no nosso último contato por telefone. Sim, ela que tinha prometido não ficar com mais ninguém, prometido voltar à igreja, trilhar os caminhos na Fé... e ainda: tinha prometido não estar com mais ninguém. Foi impulsionada pela carência de carinho e atenção, segundo ela. Ela passou por um momento difícil depois que terminamos, um problema de saúde, de qualquer modo, eu não saro meus problemas de saúde e falta de carinho e atenção ficando com alguém que eu nem conheço direito, ou mais, que não considero amar. Que seja. Isso foi a ‘prova’ mais conclusiva do tempo que perdi nesse relacionamento. Incrivelmente não senti nada quando ela me disse isso, não senti raiva, ciúme ou felicidade. Nada. Surpreendi-me comigo mesma. Conversei com ela, e disse que ficaria bastante surpresa se ela resolvesse tomar alguma atitude, como assumir isso pra família, com essa nova pessoa, afinal, tínhamos passado alguns anos juntas e essa hipótese não foi levantada. No final das contas, acho que ela sempre foi muito egoísta, sempre pensou muito nela, ou muito mais nela do que em mim – que fazia exatamente o contrário.
Percebi o quanto sofri porque quis nesse tempo todo. Não sei mais nada dela. Não entro mais em orkut, twitter ou facebook. Excluímos-nos de todos esses meios. Excluímos-nos uma da vida da outra.
Com a Ta foi curioso. Quando eu quis ela não quis, depois que comecei a namorar sério, ela quis. Brigamos por e-mail porque ela foi grosseira e deu chilique. (Quem me conhece sabe que odeio chiliques) Daí soltei tudo o que tinha pra dizer. Falei tudo que estava engasgado, que eu quis, que eu corri pra que desse certo e ela desistiu, ela tinha sido covarde, tinha amarelado nos ‘cinco minutos finais do segundo tempo’. Ela tinha me prometido que daria certo, que ficaríamos juntas, que conseguiríamos... E no final? Fez como todas. Não assumiu quem era, o que queria e quem amava. Acho que esse tipo de atitude só é ruim pra própria pessoa. Não vejo positividade em negar o que se é e o que se sente. Sinceramente, acreditei que pudesse dar certo com ela. Ela tinha me feito perder o medo de tentar de novo, e no final, teve as mesmas atitudes das outras. Mas ela voltou pra igreja mesmo, se encheu de afazeres da igreja pra servir a Deus, e ser digna de Sua misericórdia pelo erro, segundo a interpretação pentecostal.
Mas ela assumiu o que fez. Tanto no lado religioso, quanto comigo. Foi extremamente sincera. Assumiu que foi covarde, que não teve peito pra lutar pelo que queria no momento, que não devia ter contado pra irmã dela – que foi totalmente contra a atitude dela. Por fim, ela disse que me amava, que me amava muito e que continuaria me amando, que ela tinha errado e perdido a oportunidade de ser feliz comigo. Achei, no mínimo, decente ela ter admitido que tinha sido fraca e que havia se arrependido. Mas o tempo já tinha se passado. Outras águas corriam pela minha vida e eu não levantei sequer a hipótese de deixar o rio em que estava navegando. Tivemos outros desentendimentos na faculdade, fruto, a meu ver, da imaturidade dela em lidar com o ‘amor que não deu certo’. Evito contato, continuarei evitando. Acho que qualquer atitude pode suscitar algo enganoso e leviano. Acho também que já falamos tudo o que tinha de ser dito.
Minha amiga Talita passou por um grande problema esse ano, não pude acompanhar diariamente todo o desenrolar dos fatos. Acho que ela não me ama mais por isso. Uma série de fatos impossibilitou meu contato contínuo com ela, mas acho que ela poderia ter me mantido informada, como tinha pedido. Enfim, espero que algum dia as coisas se arrumem. A Talita sempre foi muito importante pra mim, foi uma grande amiga, nunca deixamos de nos falar, dificilmente nos desentendíamos. Continuo amando-a como sempre. Se eu for provida de recursos para tal, ajudarei sempre no que for necessário. A Talita é um EXEMPLO. Um exemplo de coragem, de fato. De mulher, de fato. De vida, de fato. Um exemplo de até que ponto se pode chegar, mesmo com tudo contra nós.
Eu mesma não sabia como ela reagiria caso as coisas dessem errado. Ela foi excelente, marcou posição, como fez em toda sua vida. Admiro ainda mais a Talita depois disso. Sinto muitíssimo em não ter podido continuar, de fato, na vida dela. Mas as coisas tomam os rumos mais inusitados possíveis, a vida tem peças que não compreendemos. Precisamos aprender a jogar: “... Vivendo e aprendendo a jogar, nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar.” – imaginem na interpretação da amaríssima Elis.
Fiquei na coordenação do cursinho esse ano, continuarei no próximo ano. Amei. Adorei as turmas, tive alunos excelentes, excelentes também cidadãos, excelentes pessoas, excelentes jovens. Fui realizada. Para esse próximo ano, um professor de História, o Cláudio, vai seguir na coordenação comigo, porque o Guilherme não poderá ficar. Cada dia que passa percebo que maravilha será trabalhar com ele. O Cláudio é extremamente responsável e tem, de fato, fé no nosso trabalho. Condição indispensável para conseguir suportar os altos e baixos da administração pedagógica do cursinho.
E por último – e também o motivo de eu ter feito meu relicário com toda essa intensidade e tamanho – a Idealli. Por considerar que depois dela matei muitos dos monstros que me assombravam, ela é a principal responsável pela minha reflexão de hoje. Pela minha mudança e pela imensa leveza em meu ser. É alguém que me faz bem e que quero ter por toda a vida – e tenho tanta certeza que a terei pra sempre como tenho certeza que estou digitando esse texto. A música que está tocando agora na rádio e eu amo ouvir pode ser explicativa sobre essa mulher que me virou – a interpretação é de Toni Garrido, a letra do Caetano Veloso:

“...Mar sob o céu, cidade na luz.
Sonho meu, canção que eu compus
Mudou tudo, agora é você.
A minha voz que era da amplidão
Do universo, da multidão
Hoje canta só por você.
Minha mulher, meu amor, meu lugar
Antes de você chegar era tudo saudade
Meu canto mudo no ar
Faz do seu nome hoje o céu da cidade.
Lua no mar, estrelas no chão
Aos seus pés, entre as suas mãos
Tudo quer alcançar você.
Levanta o sol do meu coração
Já não vivo, nem morro em vão
Sou mais eu, porque sou você...”

Estou namorando, é público, adoro minha sogra, minha mãe a adora, temos os mesmos ideais de justiça e igualdade, o irmão dela é ótimo e nos damos muito bem. Temos os mesmos interesses por História, Sociologia, Psicologia e Psicanálise. Além de amarmos discutir sobre Política e sobre Religião. Ela me leva até o ponto e espera o ônibus comigo, vai até o metrô Itaquera sem eu pedir – e depois volta pra estação em que tem que descer, vamos à Livraria Cultura e amamos aquele ambiente, andamos pelo centro velho de São Paulo sem nenum motivo especial, ela faz pesquisas acadêmicas comigo, eu a acompanho à faculdade, ela é excelente aluna, a melhor da classe. Vamos juntas ver os melhores filmes em cartaz. Vemos peças de teatro juntas, ela apóia e dará aula no cursinho que também dou aula e coordeno. Ela torce pelo meu futuro profissional e eu pelo dela. Temos o mesmo gosto por roupas, azulejos, cores, casa, botões de camisas, sapatos, brincos, anéis, lençóis, pratos e talheres e copos. Somos incrivelmente parecidas, nas qualidades e nos defeitos, o que nos ajuda muito a crescer. A Ignês a avisou de mim, ela já sabia que eu ia chegar. Eu tinha medo de encontrá-la, sabia que ia acabar me envolvendo. Só pelo perfil, pelos gostos, pela sensibilidade clara já foi possível ver que ela era perigosa, muito perigosa. Virou minha vida de pernas pro ar, me tomou pra si, me reapresentou a mim mesma. Sou feliz, sou inteiramente realizada, em tudo. Tudo. Todas as áreas. Ela me dá amor, carinho, atenção, temos um relacionamento como sempre sonhei em ter. Ela é completa. Linda, linda mesmo. Digo a verdade. Linda e perfeita. Ela tem um corpo excepcional, um cabelo perfeito, a pele mais bem hidratada do Brasil-il-il. Ela me impulsiona a viver. Temos o mesmo gosto musical. Ela ama Blues e Jazz. Fazemos planos para nossa vida juntas desde o primeiro dia em que ficamos, acredita que passamos a noite discutindo como seria o piso da nossa casa? Sei. Loucura, mas é. Ela me visita na faculdade. Eu durmo na casa dela, ela na minha casa. Queremos nossa casa. Fazemos contratos quase diários. Sabemos das aspirações uma da outra. Respeitamo-nos. Somos íntegras e fiéis. Honramos nosso relacionamento. Nos enviamos e-mails enormes sempre. Escrevemos depoimentos. Rimos quilos. Passamos por situaões inusitadas e excessivamente engraçadas: ‘Direita, esquerda, direita’ (piada interna). Nos presenteamos com livros e filmes. Gostamos dos mesmos nomes para nossos filhos. Somos fortes. Mulheres de resistência, femininas e fortes. Corajosas, por fim. Felizes como ninguém. Críticas, cada dia mais. Inteligentes. Amamos profundamente. Queremos pra sempre. Somos pra casar. Verdadeiras e inteiras. Fazemos terapia conosco mesmo. Preferimos uma a outra, acima de qualquer coisa e de qualquer um. Amamos mais que tudo. Prestamos atenção uma na outra. Fazemos de nossa profissão uma força pra vida. Fazemos o que gostamos. Nos compadecemos pelos outros. Doamos a nós. Programamos os filmes e ambientes frequentáveis para nossos filhos. Amamos negros, admiramos sua beleza e cultura. Queremos impulsionar as origens culturais de nossos filhos. Queremos gato em casa. Somos urbanas. Amamos Av. Paulista e o ar que circula o centro de São Paulo. Temos paixão especial pelos temas históricos das grandes Guerras e ditaduras militares. Somos idealistas, pero com pés no chão. Agimos. Fazemos a revolução efetiva diariamente e seguimos: ‘Se você disser açucar, açucar, açucar, não vai adoçar o café’. Nos conhecemos com ‘Um café e um amor, quentes, por favor’. Tínhamos certeza, sempre tivemos. Queremos o mundo. Adoramos viagens, culturas diversas. Temos um Q de antropologia correndo no sangue, certeza. Não gostamos de baladas barulhentas. Preferimos um bar à meia luz com música boa. Aliás, amamos meia-luz. Temos os mesmos gostos por ambientes iluminados e as cortinas que cobrem as janelas. Queremos muito. Damos muito. Esperamos um mundo melhor. Temos vontade e vigor, fazemos. Olhamos para as mesmas coisas e pessoas. Pensamos juntas. Planejamos juntas. Executamos juntas. Conversamos muito. Choramos ao final de filmes. Preferimos drama baseados em histórias reais, nos impulsiona. Falamos no plural, não há ‘seu’ e ‘meu’, só há nosso. Somos incrivelmente irônicas e engraçadas. Jogamos os mesmos jogos. Temos postura. Temos sede de infinito. Somos um. Enfim: imagina algo mais perfeito?
Começo 2011 com uma certeza que nunca tive: do amor real e eterno. Nos encontramos.



Excelente ano novo pra todos vocês.

Um comentário:

Unknown disse...

Gosto de ler o que você escreve, acho que escreve com o coração. Acho isso lindo.

Amo você, com todo amor que existe em mim.
Tá, não sou grande, nem alta, mas Fernando Pessoa já dizia:

"Para ser grande, sê inteiro..."

:)