A CANOA

Progresso ninguém espera mesmo
Surpresa seria se ele existisse
Como diz um certo professor:
ORDEM para os pobres
PROGRESSO para os ricos
E nessa merda de país nada se faz direito mesmo
Afinal aqui ninguém liga pra nada
O povo sofre e se acomoda
O governo come e se conforta
A criança sem escola
O jovem com as drogas
O velho na fila
A visão que tenho do Brasil com esses "rombos" na ética é de:
Uma canoa em meio ao rio
atrás dela um navio de luxo,
que leva consigo tripulação de completo desejo animal vestindo terno e gravata,
vejo gente que não se importa com o futuro do Mundo,
vejo minha Canoazinha com um mapa em branco
e vejo placas de vende-se por todo lado
Vejo gente má
Vejo gente má
Vejo gente má
Com uma bússola de quatro direções,
Quatro setas
apontadas ao mesmo tempo para Norte, Sul, Leste, Oeste
No Norte eu vejo sede
No Sul eu vejo mediocridade
No Leste eu vejo Carnaval
No Oeste eu vejo grana
E no centro dessa balburdia vejo você, vejo a mim
A canoazinha tem um mastro com uma bandeirinha do Brasil
Mas ao invés de ter o emblema:
"Ordem e Progresso" temos "A República do Zé"
Nessa nossa canoazinha há hierarquia, é mole?
Os negros e pobres de um lado
Os mau-tratados e as crianças de rua juntos
Todos em um tumulto gigantesco
Cantando sua tristeza
Do outro lado temos a burguesia
Os loucos por grana, o povo sem alma
Como dizia um certo lúcido de loucura:
"Enquanto houver burguesia não vai haver poesia"
Afinal, o que estou escrevendo aqui?
Não há poesia
Não há poesia
Não há poesia
Esqueça de tudo que leu até aqui,
Acorde para a realidade e volte para a canoa!
Depressa, depressa, depressa...

Talita Amaro de Oliveira